O agricultor Osvaldo Gomes dos Santos, de 57 anos, sustenta a família fazendo farinha de mandioca. Ele, que nasceu na região, diz que a pressão já virou ameaça e mostra uma área que acabou de ser queimada para ampliação de uma fazenda de soja. Fica dentro da APA do Rio Preto e, pelos cálculos dele, em parte das terras ocupadas pela comunidade. "A área era preservada, um cerrado alto", lembra.
Perto da região encontra-se um terreno já pronto para receber a semente de soja. Mais um desmatamento recente dentro da APA do Rio Preto.
"Geralmente, todo ano a gente desmata uma parte. Um pouco mais, um pouco menos, dependendo da situação. Este ano desmatamos 900 hectares. Não temos licença ambiental, porque é difícil conseguir. Até tentamos ir atrás. O pessoal do Ibama vem para multar, mas para conseguirmos licenciamento é difícil. Não sei exatamente o que é uma APA", diz o fazendeiro Joelson Marcelo Lucian.
Não sabe, nem nunca foi avisado. Não há nem placa que identifique a reserva, muito menos fiscalização. A APA do Rio Preto só existe no papel.
Há 25 anos, em meia hora de carro se atravessava toda a área desmatada do cerrado baiano. Hoje o percurso é uma viagem de cerca de sete horas. São 600 quilômetros de estrada em linha reta. De um lado e do outro, onde se via mata de cerrado, agora só se vê área de plantio.
O fazendeiro Walter Horita foi um dos pioneiros. Em 1984, trocou 400 hectares de soja no Paraná por uma área que hoje chega a 40 mil hectares. É um dos maiores produtores da região.
"Naquele tempo, comprar terra era muito barato. Em valores atualizados, eu diria que paguei algo em torno de R$ 50 por hectare. Hoje o hectare vale R$ 10 mil. São 200 vezes mais", calcula Walter Horita.
De acordo com uma imagem de satélite, a produção de grãos já ocupa 20% das terras dos dez municípios que compõem o cerrado baiano, uma região que começa entre Tocantins e Maranhão e vai até a região entre Goiás e Minas Gerais. Mas os produtores querem avançar mais na área plantada.
"Ainda pretendemos desmatar em torno de um 1,2 milhão de hectares, mais 10% da área total. Isso preservando a questão ambiental", adianta o vice-presidente da Associação de Agricultores da Baia, Sérgio Pitt. Isso significa derrubar uma área correspondente à metade do que já foi desmatado na Bahia.
"Pode trazer prejuízos irreversíveis para os rios do oeste da Bahia e, consequentemente, para a Bacia do Rio São Francisco", alerta o gerente do Ibama, Zenuildo Eduardo Correia.
O escritório do Ibama em Barreiras conta com seis funcionários para fiscalizar todo o cerrado baiano: 200 mil quilômetros quadrados, uma área do tamanho do estado do Paraná. (José Raimundo/Globo Repórter)
Fotos:
Osvaldo Gomes dos Santos - crédito - Aryanne Amaral
Cerrado desmatado - Hebert Regis
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